Excursão de Fidalgos

O associativismo é imagem de marca social do Porto. As colectividades representavam os lugares de encontro e ocupação de lazeres de bairros, largos e ruas de que eram emanações cívicas.

Havia-as com estatutos aprovados (sobretudo durante o Estado Novo, que tudo fez para as controlar), e havia-as informais, com objectivos simples e concretos. Podiam ser Grupos de Boas-Festas (apresentavam revistas do ano e, por criticarem demasiado, acabaram por ser proibidos), Excursionistas, Caixas de 20 Amigos, etc.

Nos tempos áureos do «turismo popular», os grupos excursionistas contavam-se por dezenas. Falamos dos anos vinte a sessenta, e, para concretizar «os passeios», os associados quotizavam-se para abalarem de camioneta rumo a destinos clássicos: Viana, Braga, Aveiro, Coimbra (e o “Portugal dos Pequeninos”) e, na melhor das hipóteses, Lisboa. Recordo uma dessas colectividades: o “Grupo Excursionista, Os Fidalgos da Lapa” e o seu VI Passeio Anual, de 26 de Julho a 2 de Agosto de 1953. Verdadeiro luxo, saiu do Porto para Lisboa, Setúbal, Portimão, V.R. St.º António, Évora, Portalegre e volta.

Em «tempos de angústias e renúncias» eram a alegria e a felicidade ao alcance da gente anónima. A resposta inocente das suas expectativas e respectivas bolsas.

E para verem como o mundo mudou e o país também (E ainda bem. Em muitos aspectos, a mudança significa viver melhor e aspirar a voos mais altos.), a empregada da cafetaria onde escrevo estas crónicas, disse-me, com naturalidade, que passara férias na Croácia. (É por estas e outras, que acredito no Progresso da sociedade.)

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~ por Helder Pacheco em 2020-02-05.