Viva o Papel

Trouxeram-me de Itália um exemplar do “Corriere della Sera”. Fundado em 1876, mantém as características de um grande jornal em papel. Em papel! Ó heresia face às modernidades que as pitonisas anunciam.
Em papel e, talvez por ser edição de sábado, com 56 páginas repletas de secções, crónicas e noticiário. A qualidade gráfica e a cor inundam-lhe a imagem, com a curiosidade (o JN fá-lo, nas pares) das páginas ímpares serem preenchidas com anúncios das mais variadas origens. Pelos vistos, os agentes económicos italianos continuam a apostar em publicidade no papel, em lugar de, como nos canais lusitanos, nos inundarem de anúncios na TV, com os telejornais interrompidos em simultâneo, estimulando o consumo. É por esta e outras razões – basta ver os jornais ingleses, norte-americanos ou franceses – que comparo as dificuldades da nossa imprensa, com a anunciada por certos futurologistas «morte do livro» e, obviamente, da leitura.
Para aumentar o meu desapontamento perante a situação (que põe em causa a essência do estado democrático, de que um esteio é a solidez da sua imprensa), dos jornais desta ditosa pátria a caminho da digitalização integral (mesmo onde não existe multibanco), o meu desgosto foi verificar que o “Corriere” publica suplementos regionais (neste caso o “Corriere del Mezzogiorno”). E mais: demonstrando a sua pujança, oferece ao público uma revista feminina (que despudor!) da maior categoria, a “Io Donna”. Eis a diferença entre os países que ainda lêem livros e jornais e os que só lêem em redes sociais e telemóveis e se arriscam a permanecer na 2ª. divisão.

~ por Helder Pacheco em 2023-12-24.