Gratidão

Em 17 de Janeiro de 1989, publiquei a primeira crónica no JN. Há trinta e quatro anos. Uma eternidade (o tempo corre a galope!). A crónica chamava-se “A Pedra da Mentira”, descrevia uma tradição pagã altoduriense e a secção do Jornal que me abrigava tinha o nome de “Vistas do meu Quinteiro”. Dele, um portuense, via e comentava o país (era um romântico!). Nesta secção estagiei, escrevendo à tripa-forra, pois não havia caracteres mas apenas palavras.
Na mudança do século, passei a integrar o “Passeio Público”, com mais disciplina e menos palavras, a caminho dos 1600 caracteres. Não obstante, disse tudo o que sabia e o que não sabia. Citei, reproduzi e inventei (não factos mas, sobretudo, pilhérias). Descrevi situações e contei o que me contaram (às vezes, anónimos que me abordam na rua). Elogiei o que achava bem e critiquei o que achava mal. Cultivando o meu quinteiro no prazer da santa independência. Fiel a dois valores: o orgulho de ser portuense e a condição de ser português, com a atitude de um «optimista melancólico» (Jean d’Ormesson).
Foi com enorme surpresa que recebi a homenagem que me foi prestada pelo JN, na altura do seu 135º. Aniversário. Surpresa, contentamento e gratidão. Quando saí da cerimónia e esperava o autocarro, no Carmo, um senhor que lá estava perguntou se eu era eu e que me reconhecia do JN, que lia diariamente. É por isto que gostava de escrever até aos 150 anos do jornal. Mas como não vai ser possível e acredito em três princípios: progresso, ciência e democracia, vou tratar de arranjar um CHATGPT que me possa substituir na tarefa, quando for embora.

~ por Helder Pacheco em 2023-12-24.