Um novo museu

            Para cidade cujo futuro passa pela internacionalização, o Porto possui poucos museus. Em atraindo visitantes, em abrindo hotéis, em promovendo políticas de atracção turística, em captando públicos, não basta ao Burgo mostrar a Ribeira, proporcionar o Douro, dar a provar o néctar celestial com o seu nome, promover a margem esquerda como alternativa de lazer.

Não chegam paisagem, rio e monumentos. Será preciso preencher o tempo com espectáculos, acontecimentos, comércios, cafés, músicas, livrarias, antiquários…. E museus, de que o défice é evidente relativamente às cidades do mesmo campeonato que competem com o Porto. Falta, por exemplo, o golpe de asa que converta o Museu do Carro Eléctrico no melhor da Europa no seu género. E o Museu que conte a história da cidade, explicada tintim por tintim. E a conversão do edifício da reitoria da Universidade num pólo museológico, com as notáveis colecções de história natural, antropologia, arqueologia e arte da instituição. E o notabilíssimo Museu de História da Medicina instalado no coração da cidade, deixando de estar longe da vista e do coração.

E falta, na cidade mais tocada pela industrialização, um Museu da Indústria que represente a memória de fábricas, operários, associativismo e sindicalismo de uma identidade perdida. E, convém não esquecer, o assassinato do Museu de Etnografia e História que portuenses dignos ergueram e foi barbaramente diluído em abandono (e não venham com o argumento da parolice da cultura popular os ideólogos que qualquer dia nem falam português e precisam de levar com os Deolinda para aprenderem a gostar do país).

Mas como Portugal é melhor do que os telejornais mostram e a trilogia cultura/ciência/conhecimento tem sentido, o Porto foi brindado com um magnífico Museu da Farmácia, criado pela Associação Nacional das Farmácias. Enquanto o Terreiro do Paço o asfixia, a ANF promove-o com mais um instrumento de afirmação e enriquece-o com um pólo científico e educativo exemplar.

Tendo como patrono o Professor Alberto Correia da Silva, Mestre da Fac. de Farmácia da UP, o novo Museu encontra-se instalado no soberbo edifício (de modernidade que também é timbre do carácter tripeiro) construído pela ANF, em Ramalde (48 000 m2 de área e, para já, 300 postos de trabalho). Através dele, percorremos 5 000 anos de história da farmácia, mostrada através de peças provenientes de diferentes civilizações e culturas. E – surpresa das surpresas! – a mais bela farmácia do Burgo, a Estácio – verdadeira Lello e Magestic das farmácias –, que julgava perdida e cujo desaparecimento critiquei, pensando ter sido destruída, foi reconstituída no Museu, tal como era em Sá da Bandeira.

Os que têm a mania de que no Porto não se passa nada podem continuar em hibernação; os que vivem a Cidade para além das estratégias grupais têm na Rua Eng.º Ferreira Dias a oportunidade de horas bem passadas, usufruindo desta prenda oferecida à Cidade. (Que a merece e muito precisa que a tratem bem.)