No Montebelo

Agosto é mês festeiro e Setembro não lhe fica atrás. Só no Porto, onde o turismo não vai, acontecem três festas: a Santa Clara, à Senhora de Campanhã e à que não esmorece Nª. Sª. do Porto.
A persistência destas tradições na Cidade Oriental, deve-se à vontade de Comissões activas e de párocos atentos aos desafios da transição entre o passado e o presente das suas comunidades. Enquanto isso, o «cair da folha» (velha expressão da Sé, designando o início do Outono) traz-nos a Festa da Senhora do Ó, em S. Nicolau. (Em crónica anterior, esqueci-me do Senhor da Boa Fortuna, na Vitória.)
As festividades à Senhora do Porto (aparentemente fora do sítio, pois tem a paróquia em Ramalde mas, ali, a morte da festa foi uma história triste), é milagre de resistência do antigo bastião operário de Montebelo. E de perseverença da Confraria do Senhor Jesus da Boa Vista, para, durante quatro dias, consagrar a imagem (segundo a lenda, salva da embriaguez de um soldado napoleónico) e organizar a Festa, com programa de arromba, aproveitando a nesga de espaço deixada pelo acesso ao túnel. Previa actuações dos Cavaquinhos do Bonfim, dos Rancho Folclórico do Porto e do Grupo de Dança de Zebreiros, além de cantores de música ligeira e do Combo da Escola de Música do Bonfim. Este ano, no domingo da Festa, não saiu a Solene Procissão. Seria acompanhada pela Banda Musical de S. Martinho do Campo, mas o mau tempo estragou tudo.
E aqui têm como, sem metafísicas e libertos de ayatolas culturais, estes portuenses mantêm o apego à cidade e a (con)vivência de vizinhança que se recusa a perder a alma.

~ por Helder Pacheco em 2023-12-24.