Um desafio

Noticiou o JN que havia 34 tradições do nosso património imaterial em espera de «deliberação superior» para «entrarem na lista do património nacional».

Desconfio das deliberações made in Terreiro do Paço, porque do país sabe e entende pouco. Ou nada. A lista, que vai do Cantar de Reis, de Ovar, à Festa das Rosas, de Vila Franca do Lima, da bateira avieira, do Tejo, ao fabrico da Broa de Milho, de Famalicão, para os corredores do Centralismo deve cheirar a parolice. Aliás, o dito-cujo, na sua infinita incongruência, tanto desconfia do de antigamente como do da modernidade e não classificou a Casa da Música porque tinha pouco tempo.

Aparentemente, para ser incluído na agenda do TP, só com antiguidade venerável. Assim, não há qualquer razão para que as tradições candidatas continuem em espera. Talvez em matéria de políticas culturais isto esteja a precisar de um novo 25 de Abril.

Quero então acrescentar à lista outra proposta: é imperativo o Burgo candidatar a sua tradição maior, a Festa de S. João, a Património Cultural da Humanidade. Que outra manifestação existe equivalente em antiguidade (historicamente desde D. João I, pelo menos, mais longe, desde a pré-história, como culto solar)? E em abrangência da comunidade, entusiasmo, emoção participada, animação, iniciativa popular, espontaneidade, convergência de acções culturais, tradição gastronómica? Que outra manifestação existe de transformar uma cidade inteira em espaço de Festa? Quem aceita o desafio de uma guerra destinada a transformar a assunção da grandeza cívica da cidade, numa plataforma de afirmação internacional?

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~ por Helder Pacheco em 2020-02-05.